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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Pintar ao ar livre ou en plein air é simples: Primeiro pinta-se o cão e depois pintam-se as pulgas.
Lagoa de óbidos sem ponta de vento
Helder Vieira
Óleo sobre tela 18x30 Cm
De entre as múltiplas formas de executar uma pintura ao ar livre, escolho a que segue, por ser de execução relativamente fácil (embora sempre mais fácil dizer do que fazer) e muito eficaz quanto aos resultados.
Deve, por isso e em regra, encontrar-se um ponto focal, aquele para onde o olhar é conduzido e que constitui o centro das nossas atenções e também do espectador do quadro, uma vez terminado.
Observar cuidadosamente o objecto da nossa pintura é fundamental, mas olhando com “olhos de artista”.
E os “olhos do artista” procuram desde logo identificar uma boa composição, o que incluir e/ou excluir da composição, quais as zonas claras e as escuros, o registo de cor do local e a sua atmosfera (como uma pauta musical, é preciso saber em que clave está escrita a música), onde se situam as cores mais fortes, a zona mais escura das zonas escuras, a zona mais clara das zonas claras, etc etc.
Feito esse exercício mental e cuidadoso, como se fosse uma pintura mental, inicia-se a pintura propriamente dita, cujos passos podem ser descritos assim (entre muitos outros métodos):
1 ― Com pincel médio e tinta diluída e escura, começa-se por estabelecer os fundamentos da composição da pintura, em traços mínimos e dando nota da linha do horizonte (real ou imaginária) e das massas dos objectos que compõem o cenário e não dos pormenores. Se a composição funcionar o resto do processo de pintura assentará em terra firme.
2 ― Em seguida, constrói-se a estrutura tonal da pintura, apontando-se logo, com pinceladas rápidas e largas, os valores tonais escuros e, por oposição, resultam também daí os tons mais claros. Este trabalho deve ser feito rapidamente, pois a luz muda muito depressa e com ela as sombras. Uma vez estabelecidas as zonas claras e escuros não devem, em regra, mudar-se esses aspectos em perseguição da luz e das sombras, caso contrário vai cair-se em contradição; Sem prejuízo, é claro, dos ajustamentos que se mostrem necessárias ou para adicionar informação válida ao fim em vista.
3 ― Bloquear na pintura os restantes valores tonais intermédios, afinando os apontados nas fases anteriores e sempre de forma simplificada e olhando para as formas ou objectos como massas ou volumes e não para os seus pormenores, pois a simplificação é a chave para o sucesso. Simplificar as formas pintando-as como massas ou volumes de tons e cores é um passo muito importante.
4 ― Por último, agora sim, importa descer aos pormenores elegíveis (há uns mais importantes do que outros para definir e dizer o que queremos dizer). Há que colocar os detalhes e os destaques dando identidade e design ao quadro.
Pode haver uma tendência para ignorar esta forma de proceder e começar desde logo com a pintura de pormenores, pois isso parece dar definição à pintura desde o início, mas o resultado é, em regra, inferior.
Importa saber resistir a essa tentação e não pintar as pulgas antes de pintar o cão.
Definições, pormenores, notas de luz, etc, são sempre realizados no final.
Boas pinturas.
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4 comentários:
Sempre tive a tendência de querer pintar as "pulgas antes que o cão" jejeje.....
Uma boa ajuda esta sequencia de ideias. Obrigado
A
A técnica aprende-se como quem aprende a escrever.
Depois chega uma altura em que a técnica, tal como a escrita, estará ao serviço das idéias e das emoções... e o mundo nunca mais será visto da mesma maneira: O mundo ficará maior; ou talvez seja a nossa percepção do mundo a tornar-se maior;ou ainda, quem sabe, sejamos nós a ficar maiores! Talvez tudo junto...
Passou-me comentar o quadro. Aprecio muito texturas, e o tronco das árvores está fenomenal.... muito interessante, particularmente o tronco mais próximo
Obrigado. Várias pessoas comentaram nesse sentido também :)
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